A startup, que é voltada para o setor de reposição de peças automotivas, foi destaque na quarta edição do Prêmio Gala Latam Founders, que ocorreu na última semana de maio, em São Paulo. Confira a entrevista com os fundadores da plataforma
Durante uma conversa entre amigos, o administrador de empresas Vinicius Dias e o economista Fernando Cymrot, ambos formados pela FEA-USP, perceberam que almejavam mais do que uma carreira em um banco ou em uma grande consultoria, como os planos estavam caminhando na época: eles queriam empreender.
Mais do que isso, criar uma empresa de tecnologia global, que pudesse ter um grande impacto no mercado. O objetivo estava claro, mas ainda faltava definir o setor de atuação.
“Já tínhamos a intenção de seguir na área de peças, mas analisamos oito setores diferentes até chegarmos à conclusão que o mercado de autopeças carecia de investimentos e projetos digitais”, afirma Dias.
Com a análise em mãos, os colegas de faculdade decidiram virar sócios e criar algo que, de fato, transformasse o setor. “Largamos nossos empregos e trabalhamos durante seis meses no planejamento”, afirma Cymrot.
O modelo de negócio, no entanto, foi surgindo à medida que se aprofundavam no tema. “Decidimos investir em um marketplace, já que ainda não existia nenhum voltado especialmente para o mercado de reposição”, acrescenta Dias.
Após um ano de preparação, a primeira versão da plataforma foi lançada em 2013. Desde o início, o Canal da Peça opera nos modelos B2B (empresa para empresa) e B2C (empresa para consumidor), que objetiva a integração de fabricantes de autopeças, varejistas, mecânicos e consumidores finais.
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Destaque na categoria B2B
Hoje, quatro anos depois, o Canal da Peça já teve 11 milhões de acessos, mais de 6 milhões de usuários e 32 milhões de pesquisas no site, gerando, em 2016, movimentação de R$ 6 milhões.
Esses números têm se destacado no cenário virtual e no setor de tecnologia. A quarta edição do Prêmio Gala Latam Founders, que ocorreu no dia 29 de maio, em São Paulo, mostrou o potencial da plataforma.
O evento nasceu em 2014 e é conhecido como o “Oscar das Startups”, já que reconhece as empresas que mais se destacaram no quesito inovação e tecnologia na América Latina, nas categorias Melhor Investidor, Melhor Empresa B2B, Melhor Empresa B2C, Melhor Empresa Internacional, Melhor Aceleradora, Empresa Mais Inovadora, Empresa Mais Impactante e Empreendedor do Ano.
Organizado pela Latam Founders Network, rede com mais de 700 associados, as indicações das companhias vêm através de seus membros.
Este ano, além da votação fechada, apenas para integrantes da rede, o público também pôde opinar. “Muitos indicados pediram que seus clientes e usuários também pudessem votar”, explica Pamela Granoff, idealizadora do prêmio.
O Canal da Peça, que venceu na categoria “Melhor Empresa B2B” de 2017, concorreu com as empresas Contabilizei, Escale, Gympass, Pismo e Resultados Digitais.
“Para nós, esse prêmio mostra a força do segmento de aftermarket no cenário de tecnologia na América Latina. Acreditamos que aos poucos o setor irá ocupar um lugar de destaque, igualando o que temos no mundo offline”, afirma Dias, que dividiu o palco com premiados como Netflix, Google Campus e Nubank.
“Reiteramos que somos uma empresa do setor de aftermarket que usa as tecnologias disponíveis para trazer valor a todos do setor e fomos premiados por fazer isso com qualidade”.
A cerimônia teve a presença de 180 empreendedores e investidores e, ainda, uma palestra do britânico Neil Patel, um expert em marketing digital.
“Eu sou uma grande admiradora do Fernando e do Vinicius, pois são empresários motivados e dedicados. Eles têm movimentado o setor e estou certa de que vou continuar acompanhando o crescimento do Canal da Peça”, diz Pamela Granoff.
Para Granoff, o fato de a plataforma ser voltada apenas para o mercado de reposição, algo inédito no Brasil, e beneficiar todas as pontas do varejo faz com que ela se destaque. “O Canal da Peça realmente tem perturbado o setor como nenhuma outra empresa conseguiu”, opina.
Em 2016, o Canal da Peça também conquistou o prêmio de empresa do ano pela consultoria americana Frost & Sullivan. “Porém, o deste ano foi o primeiro com viés internacional e de destaque em outros setores”, diz Cymrot.
Autopeças: mercado em ascensão
A ideia dos empresários foi colocada em prática em um bom momento para o setor. Um estudo feito em 2014 pela consultoria alemã Roland Berger, em parceria com a americana Hedges & Company, revelou que, desde 2008, o comércio online de autopeças vem crescendo entre 12% e 16% a cada ano.
No Brasil, a consultoria Ebit mostrou que 48 milhões de consumidores fizeram pelo menos uma compra online em 2016, representando um aumento de 22% em comparação ao ano anterior.
Com mais brasileiros conectados, é natural que novos empreendedores cheguem à rede. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em 2016, as empresas iniciantes da área de tecnologia cresceram 30%, fechando o ano em mais de 4,2 mil companhias ativas.
“Somos um País grande com economia dinâmica e diversificada. É normal que muitas oportunidades apareçam e novos empreendedores se arrisquem a criar serviços de tecnologia para mercados B2B e B2C”, comenta Cymrot.
“A digitalização dos brasileiros, que agora contam com smartphones acessíveis para todas as classes, somado aos avanços dos serviços de infraestrutura como Google, Amazon e PayPal, ajudam o barateamento do setup das startups. O conjunto desses fatores irá impulsionar ainda mais o surgimento de novas empresas”, acrescenta Dias.
O canal do futuro
O objetivo dos empresários, agora, é se tornar a maior plataforma de compra e venda de peças automotivas e industriais da América Latina. Para isso, novos serviços serão lançados nos próximos meses.
Fabricantes, distribuidores, varejistas e oficinas terão softwares ligados à plataforma. “Todos eles, no entanto, possuirão um ponto central: vão envolver transações de peças e serviços automotivos”, afirma Dias.
Com esses lançamentos, a expectativa é oferecer um ambiente virtual ainda mais completo para profissionais do setor de aftermarket. “Dezenas de milhares de profissionais poderão relacionar-se dentro da plataforma, como já o fazem comprando e vendendo via cartão de crédito”, acrescenta Dias.
Para acelerar o crescimento, haverá uma próxima rodada de investimentos em breve. Atualmente, há dezenas de investidores, entre gestores de fundos globais e de grandes grupos brasileiros, diretores de bancos de investimentos internacionais e empresários de tecnologia.
“Mais do que a quantidade, damos ênfase para a qualidade. Todos eles juntos nos dão muita força para continuar nosso caminho e chegar onde queremos chegar”, afirma Dias.
Pelo visto, aquela startup que nasceu durante um bate-papo informal tem tudo para se tornar gigante no setor.