Clube do A3 no dinamômetro – Afinal de contas, quem vai à uma máquina dessas?

Entre os cerca de trinta homens e mulheres que tiraram uma tarde de sábado próxima ao Natal para acelerar sua máquina, Maurício Toffano esta entre os mais requisitados. Um dos mais antigos membros do A3 Clube – um grupo de aficionados por este modelo icônico da montadora alemã, com presença ativa em fóruns de discussão virtuais e eventos reais organizados por seus membros – , Toffano (que será chamado aqui de “Della”, seu apelido entre todos) é técnico de refrigeração em São Paulo, pai-coruja de um garoto serelepe que anda pra lá e pra cá com sua camisa do jogo Angry Birds dono de um Audi A3 Sportback 2009, preto, quatro portas e interior em couro creme.

Uma joia alemã que vai entrando devagar, mansinha e de ré, no dinamômetro da Dyno’s Race, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. É ali que Della irá  conferir a real potência do motor para saber como ele – seu terceiro Audi – se comporta em potência máxima.

Quase quinze minutos depois, o carro chegava a 226,7 km/h, mesmo que, para “dinamometeiros” de primeira rodagem, pudesse parecer impossível. Afinal de contas, o carro não se moveu um centímetro durante todo o teste.

A3 Clube no dinamômetro – Entenda o que é (e pra que serve) um dinamômetro

+ A3 Clube no dinamômetro – Uma experiência surreal

O dinamômetro automotivo é uma máquina  grande de princípios bastante simples. A versão que o Blog do Canal da Peça foi conhecer está instalada num pequeno salão comercial, no bairro Assunção, em SBC. O segredo da máquina está em medir rotação, velocidade e torque do carro que acelera sobre uma dupla de rolos de ferro, que simulam o contato com o asfalto. Em cima deles, as rodas aceleram ao máximo, enquanto sensores medem o desempenho do automóvel.

Mas não custa relembrar: trata-se de um salão comercial, e um carro a mais de duzentos por hora ali dentro facilmente destruiria as paredes do local, sairia num pinote por trezentos metros e causaria uma destruição única. Isso só não acontece porque, além dos rolos de aço fazerem o eixo de tração girar sem sair do lugar, o automóvel fica ancorado por cordas bastante resistentes. E o responsável por esse trabalho todo é o Ademir, o dinamometrista responsável pelo local.

Com quase dez anos de experiência no “dina”, Ademir Pedroso sabe fazer o circo pegar fogo. Depois de prender os cabos com um fecho potente o suficiente para segurar um carro em toda a sua potência, Ademir dirige-se ao banco do piloto – na grande maioria das vezes, ele é o responsável por acelerar o carro, não os donos. Depois de ligado o carro, ele aciona os medidores por meio de um computador, sob o olhar dos donos e de curiosos, alguns comendo, outros apenas observando.

Todos estão juntos pelo A3 Clube, que existe há três anos e tem Della como um dos membros mais ativos.  Ele explica que o propósito do fórum não é a venda de produtos  “[O clube] é mais uma comunidade para quem gosta da marca e do modelo. É um grupo sem fins lucrativos”, explica. E que não alimenta “preconceitos” contra outros modelos. “Não é porque é ‘Clube do A3’ que só vai se falar de A3, a gente fala de Golf, A4, etc.”

Os modelos variam pelos anos, edições e número de portas, mas nenhum deixa de ser tratado como um diamante por seu dono: Antônio Flávio trabalha com comunicação  na capital paulista e é dono de um modelo 1.8 Turbo 2001. A pintura do carro foi submetida a um processo conhecido como vitrificação e o resultado foi que o modelo, mesmo feito há doze anos, tinha uma aparência tão perfeita que deixou os repórteres do Canal da Peça de queixo caído. Seu carro tinha, entre as alterações, um turbo intercooler reforçado e uma turbina GT25, que possibilitou que a potência sob o capô fosse dos 150 cavalos para 330 – um aumento de 180% em relação ao original de fábrica.

Outro feliz da vida com seu carro é Rogério Cabral, executivo de compras de Diadema, também na grande São Paulo, e o único a possuir um Audi S3, versão esportiva do A3. O modelo em questão contava com outra peculiaridade em relação à maioria dos possantes presentes: tinha o motor virgem, sem nenhuma modificação e com a potência de 225 cavalos. Mas talvez não por muito tempo, nas palavras do dono. Além dos modelos da marca das argolas, também estiveram presentes gente como Anderson Bofete, de Santo André, que veio com sua BMW 130m, ou o Honda Civic SI vermelho que também foi testado nesse dia.

Enquanto o clima de amizade rolava em torno da churrasqueira, acesa do lado de fora da oficina, Ademir seguia focado no seu ofício, com um controle remoto de dois botões, bastante simples, ligado ao dinamômetro, em suas mãos. A primeira fase consiste em igualar as rotações da máquina com as da roda do carro – assim se calcula com exatidão a potência do motor. Depois de sincronizados chão e roda, as acelerações podem começar.

O dois monitores – um situado ao lado do carro e outro numa TV para que todos possam acompanhar – passam da tela azul para a vermelha, com um velocímetro indicando até onde o motor do A3 de Della pode ir. O carro é uma aquisição recente sua, motivo pelo qual ele nunca mediu sua potência. “Deve ter uns 250 [cavalos de potência], mas eu nunca medi”, afirma. O motor sofreu um remapeamento conhecido como APR, que no nível em que foi feito (chamado de Stage 1+) deveria dar, em média, até 70 cavalos a mais de potência ao motor.

Uma luz verde se acende na tela. Está na hora de saber se isso irá acontecer ou não.

Ademir acelera e as marchas vão subindo: primeira, segunda, terceira, quarta e, quando se alcança a quinta marcha, o carro ainda está próximo aos 90 km/h. O objetivo era, exatamente, testar o carro na marcha mais alta, de modo que, nos primeiros segundos, a aceleração é mais leve. Mas quando a Della engata a quinta, é pé embaixo, sem parar. O velocímetro sobe com uma força impressionante. Dos cento e vinte ao cento e trinta, pouco menos de um segundo; e, antes que se note, o carro rompe a barreira dos duzentos.

O ponteiro já chega bem próximo do seu limite e a pequena tela do painel aponta um dado curioso:  a porta do capô está aberta. Sim, temos um carro agora a 215 por hora e ainda acelerando, quase chegando ao seu pico de potência, com o capô aberto e dois grandes ventiladores à toda na frente. O objetivo principal dessas peças nada mais é do que simular o vento entrando na grade dianteira do carro. É esse ar que, jogado diretamente no motor, alimenta o sistema com oxigênio, possibilitando uma melhor queima do combustível.

Toda vez que um carro chega ao pico de sua potência, os donos mal conseguem disfarçar o brilho nos olhos. E isso é apenas uma parte da aura de “templo da velocidade” que envolve o local. As paredes estão revestidas com espuma por questões de acústica, o que parece não adiantar muito: elas tremem e tremem; o rolo que faz as rodas girarem passa da cor de aço pra um tom brilhante; água (usada dentro do cilindro) e alguns grãos de areia (que vem nos sulcos dos pneus) voam com velocidade; a máquina que suga a fumaça do escapamento, por mais barulhenta que seja, parece muda perto da gritaria de um automóvel em seu auge.

Tudo isso dura uma fração de segundo e, quando se nota, o carro  já está freando, todos estão comendo novamente e o próximo da fila já começa a rebocar seu carro.

O resultado aparece na tela: logo na primeira passagem, o A3 Sportback de Della alcançou 224,7 km/h, com o motor chegando ao pico de 6720 rpm. Já na segunda, a máxima de 226,7 km/h mostrou que a potência real do carro é de 267 cavalos, mais do que o esperado  pelo dono.

É natural que alguns fiquem desapontados com o desempenho do carro na medição: quando se reencontraram, dessa vez no site em que se encontra o fórum, Rogério disse que seu veículo deu apenas 222 cv, enquanto outros garantiam que, comparado com medições anteriores, esta tinha dado diferença de 40 cavalos a menos no motor.

Mas há também quem se surpreenda positivamente. A BMW de Anderson chegou a quase 266 cv, com o torque passando de 33 kgmf, bem mais do que as expectativas iniciais do proprietário. A sua máquina, de uma pintura preta reluzente e impecável, quase não tinha alterações: o filtro novo e um scoop novo, que é a entrada de ar no capô. Esse item, apesar de parecer questão de estética, traz sim um aumento de potência à máquina, facilitando a entrada de ar no sistema de combustão.

O resultado final!

Sim, o clima era festivo: final de semana, churrasco, carros acelerando. Mas é inegável que cada um tinha grandes expectativas em relação ao que estava em jogo. Um Audi, assim como qualquer carro, é a joia lapidada de seu dono, fruto de cuidados extremos: como vimos, a maioria dos motores foram modificados e tiveram seus sistemas alterados para que dessem ainda mais de si. Então não adianta negar: mesmo que você não seja um fã de carros, iria se sentir ansioso quando fosse sua vez de ver seu carro sobre uma máquina fantástica como esta, com dezenas de pessoas ao seu redor, prontas para invejar – ou não – “seu” desempenho.

Por isso um dinamômetro ligado  atrai tanta atenção. Mesmo que, ali em cima, os carros não se movam nem um centímetro.

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